segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Para chegar lá

Após ganhar 29 quilos na gravidez, a jornalista Paula Narvaez, 26, começou a correr para emagrecer. Acabou descobrindo uma nova forma de prazer

Por Daniela Arrais e Lívia Laranjeira
Fotos Kiko Ferrite

Quando a gente não quer, qualquer desculpa serve. É a preguiça, uma festa imperdível ou o último capítulo da novela. Tudo vira pretexto para adiar a promessa de se alimentar melhor e de praticar exercícios. Afinal, acordar cedo para malhar não é algo que se faça por puro prazer... Será?

Para a jornalista Paula Narvaez, 26, exercício também era sinônimo de obrigação. Disciplinada, ela frequentava a academia regularmente, mas só porque queria se manter magra: pesava 53 quilos, distribuídos por 1,69 m. Prazer era um termo reservado a outros programas, como ir a baladas. Hoje, no entanto, Paula encara a atividade física como uma  forma de lazer. “Troquei a noite pela corrida”, diz.

Essa guinada se deu depois que ela engravidou de Maria Luiza, hoje com 5 anos. Devido a um deslocamento de placenta, Paula foi orientada a não fazer atividades físicas durante toda a gestação. “Acabei engordando 29 quilos”, lembra. “Quando me vi daquele jeito, foi horrível. Logo eu que sempre tive um corpo legal... Mas essa agonia também me motivou.”

Após o nascimento da filha, ela tentou fazer bicicleta e transport, sem encontrar prazer nisso. “Passei a correr na esteira e também não gostava muito. Na época, não tinha iPod, era bem chato. Mas uma hora deu um ‘start’ e comecei a amar.” Paula tinha dado à luz havia dois meses quando começou a nova atividade: percorria 5 quilômetros em 40 minutos. Três meses depois, conta, não tinha mais barriga.

O emagrecimento que desejava tanto ocorreu – hoje Paula pesa 58 quilos –, mas ela descobriu outros benefícios na atividade. “Sou mais feliz. Tenho ótimas ideias quando estou correndo – minhas melhores ideias, aliás, vêm durante a corrida. Meu humor também melhorou: estou mais calma, não sou histérica como costumava ser. E ganhei consciência corporal: antes, queria ser esquelética; agora, aprendi a me aceitar.”

Atualmente, ela participa de provas e integra a Athletics West, equipe de corredores profissionais e amadores da Nike. Neste mês, participará na Nike 600K – corrida de revezamento de cinco dias, do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, à Praia do Pepê, no Rio de Janeiro. Cada atleta correrá três vezes por dia, 7 quilômetros por vez.

Em agosto, ao ser chamada para treinar para essa corrida, Paula repensou o tabagismo. “Às vezes fumo um cigarro e, daqui a 15 dias, fumo outro. Mas não compro mais”, diz ela, que não havia parado de fumar nem durante a gravidez. Em seu novo estilo de vida, as baladas também ficaram mais raras. “Penso duas vezes antes de trocar um treino por uma ‘noitada’.”
A empolgação com a atividade foi tanta que a jornalista chegou a se machucar. Em abril, treinando para a meia maratona do Rio, sofreu uma fratura por estresse no pé e passou dois meses sem correr. Desde então, diz, aprendeu a importância do descanso e adotou uma rotina de quatro treinos por semana: segunda e quarta, 7 quilômetros; sexta, 20; sábado, 10.

Com a seleção para a 600K, o treino voltou a se intensificar. Passou para cinco dias semanais – quatro dedicados a corridas de 8 a 10 quilômetros, e o quinto, a uma de 20 quilômetros – e inclui aclives e declives, que preparam para a região serrana. Há ainda sessões semanais de bike. Paula, que costumava correr sozinha, está curtindo a nova experiência. “Nunca achei que eu fosse boa. Hoje acredito mais nisso. E estou em uma equipe legal. As pessoas têm mais ou menos a mesma idade, e a gente tem assunto.”

O esporte acabou abrindo também oportunidades profissionais. No início de 2009, uma amiga que trabalhava na revista O2, especializada em corrida, a convidou para integrar a equipe da publicação. “Aceitei e me envolvi ainda mais com o assunto”, diz Paula. E ela não pretende parar. “Há dias em que meu corpo está cansado, e eu sei que não adianta treinar, porque não vai render. Mas nunca penso em desistir, porque correr virou um prazer na minha vida.”

(Matéria publicada em outubro de 2010 no especial Corpo da revista Criativa. Para ver o conteúdo original, clique aqui)

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