Após ganhar 29 quilos na gravidez, a jornalista Paula Narvaez, 26, começou a correr para emagrecer. Acabou descobrindo uma nova forma de prazer
Por Daniela Arrais e Lívia Laranjeira
Fotos Kiko Ferrite
Quando a gente não quer, qualquer desculpa serve. É a preguiça, uma festa imperdível ou o último capítulo da novela. Tudo vira pretexto para adiar a promessa de se alimentar melhor e de praticar exercícios. Afinal, acordar cedo para malhar não é algo que se faça por puro prazer... Será?
Para a jornalista Paula Narvaez, 26, exercício também era sinônimo de obrigação. Disciplinada, ela frequentava a academia regularmente, mas só porque queria se manter magra: pesava 53 quilos, distribuídos por 1,69 m. Prazer era um termo reservado a outros programas, como ir a baladas. Hoje, no entanto, Paula encara a atividade física como uma forma de lazer. “Troquei a noite pela corrida”, diz.
Essa guinada se deu depois que ela engravidou de Maria Luiza, hoje com 5 anos. Devido a um deslocamento de placenta, Paula foi orientada a não fazer atividades físicas durante toda a gestação. “Acabei engordando 29 quilos”, lembra. “Quando me vi daquele jeito, foi horrível. Logo eu que sempre tive um corpo legal... Mas essa agonia também me motivou.”
Após o nascimento da filha, ela tentou fazer bicicleta e transport, sem encontrar prazer nisso. “Passei a correr na esteira e também não gostava muito. Na época, não tinha iPod, era bem chato. Mas uma hora deu um ‘start’ e comecei a amar.” Paula tinha dado à luz havia dois meses quando começou a nova atividade: percorria 5 quilômetros em 40 minutos. Três meses depois, conta, não tinha mais barriga.
O emagrecimento que desejava tanto ocorreu – hoje Paula pesa 58 quilos –, mas ela descobriu outros benefícios na atividade. “Sou mais feliz. Tenho ótimas ideias quando estou correndo – minhas melhores ideias, aliás, vêm durante a corrida. Meu humor também melhorou: estou mais calma, não sou histérica como costumava ser. E ganhei consciência corporal: antes, queria ser esquelética; agora, aprendi a me aceitar.”
Atualmente, ela participa de provas e integra a Athletics West, equipe de corredores profissionais e amadores da Nike. Neste mês, participará na Nike 600K – corrida de revezamento de cinco dias, do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, à Praia do Pepê, no Rio de Janeiro. Cada atleta correrá três vezes por dia, 7 quilômetros por vez.
Em agosto, ao ser chamada para treinar para essa corrida, Paula repensou o tabagismo. “Às vezes fumo um cigarro e, daqui a 15 dias, fumo outro. Mas não compro mais”, diz ela, que não havia parado de fumar nem durante a gravidez. Em seu novo estilo de vida, as baladas também ficaram mais raras. “Penso duas vezes antes de trocar um treino por uma ‘noitada’.”
A empolgação com a atividade foi tanta que a jornalista chegou a se machucar. Em abril, treinando para a meia maratona do Rio, sofreu uma fratura por estresse no pé e passou dois meses sem correr. Desde então, diz, aprendeu a importância do descanso e adotou uma rotina de quatro treinos por semana: segunda e quarta, 7 quilômetros; sexta, 20; sábado, 10.
Com a seleção para a 600K, o treino voltou a se intensificar. Passou para cinco dias semanais – quatro dedicados a corridas de 8 a 10 quilômetros, e o quinto, a uma de 20 quilômetros – e inclui aclives e declives, que preparam para a região serrana. Há ainda sessões semanais de bike. Paula, que costumava correr sozinha, está curtindo a nova experiência. “Nunca achei que eu fosse boa. Hoje acredito mais nisso. E estou em uma equipe legal. As pessoas têm mais ou menos a mesma idade, e a gente tem assunto.”
O esporte acabou abrindo também oportunidades profissionais. No início de 2009, uma amiga que trabalhava na revista O2, especializada em corrida, a convidou para integrar a equipe da publicação. “Aceitei e me envolvi ainda mais com o assunto”, diz Paula. E ela não pretende parar. “Há dias em que meu corpo está cansado, e eu sei que não adianta treinar, porque não vai render. Mas nunca penso em desistir, porque correr virou um prazer na minha vida.”

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